Tiradentes/MG – Foto: Fernando
Mulher de fibra, alto astral, parceira, verdadeira, amiga, mãe e avó corujíssima! Simone é tudo isso e um pouco mais… Conheçam esta grande montanhista!
Nasceu no rio? E sua idade?
Nasci em Copacabana nos idos de 1951 portanto, 59 anos
Profissão?
Me formei em Nutrição mas nos últimos 11 anos abandonei esta preocupação e virei secretária sem a menor culpa.
E de montanha, quanto tempo?
Minha vida de montanhista (acho que a gente não passa a ser, a gente É) teve inicio oficialmente em 1989 quando entrei para sócia do CEB. Na verdade já havia feito umas coisinhas por aí.
Como foi que começou a escalar? O que te motivou?
Em 90, um dos associados começou a fazer propaganda comigo sobre escaladas e num dos desafios, fiz 3 ou 4 escaladas e fui intimada por um dos guias a fazer o curso de básico (chamava-se adestramento). Que coisa antiga ! Em 91 , fiz o curso que era bastante diferente do de hoje.
Te conheci quando era presidente do CEB (Centro Excursionista Brasileiro)…Conta essa experiência de presidir o clube de montanha mais antigo e com o maior número de sócios, e sendo voluntária?
Enquanto fazia o curso fui chamada para fazer parte da diretoria como Diretora Social e permaneci desta forma por algum tempo… Um dia, uma turma resolveu montar uma chapa e qual não foi minha surpresa quando anunciaram meu cargo. Tive que ser submetida (sem saber) a uma apreciação pela turma anciã do clube e fui aceita. Dá um trabalho danado e uma responsabilidade muito grande ser presidente. Ia à sede 3 a 4 vezes por semana – gente, trabalho voluntário. Quer dizer voluntário não de doação. De fato não me arrependo desta fase. Não entrei para ser política e sim uma “dona de casa” e aí, tome arrumação e obras de melhoramento.
Fale um pouco desta sua dedicação ao clube e ao esporte.
No inicio da vida de escaladora só havia eu de mulher, uma vez que outras duas já não faziam parte tão ativa assim e no dia em que a grande mesa do salão abriu um espaço para mim no meio de todos os homens pensei – consegui! Hoje participo pouco da sede social, pois meu trabalho não permite, mas continuo fazendo caminhadas e escalando.
Muitas destas excursões procuro (com meu fiel escudeiro Menudo) fazer alguma coisa voltada para a familia por ex. carnaval numa cidade que proporcione não só a atividade carnavalesca como bike, caminhadas de vários níveis e espaço para o familiar não fazer nada. Acho importante que o montanhista fique numa atividade que gosta num feriado com seus filhos ou pais, enfim. Neste ultimo carnaval levamos 70 pessoas nestas condições.
Carrancas/MG com Fernando, Zozimar Moraes e Antônio Dias – Foto: Fernando
Com os netos, no Coloridos – Foto: arquivo pessoal
Seu filho, Luís Paulo (Vinil) também escala e é ativista do Greenpeace…Como sei que você é uma mãe coruja… como é dividir a ponta da corda com o filho?
Meu filho! Começou a escalar enquanto era adolescente e logo parou – mãe/filho era de matar a paciência. Mais tarde e mais amadurecido, voltou a fazer a atividade novamente.
Você não tem noção da alegria que um filho proporciona quando chama para fazer alguma coisa juntos – sou coruja e hoje tiro o chapéu para ele . Muito cuidadoso, sem esnobismos e grande estudioso das coisas de montanha e outros esportes. Agora, ser mãe dele não é muito tranquilo não – mas meu coração aguenta ! Ora desaparece nos matos em bike, dorme na pedra, faz trabalho de dublê, caiacou até Paraty e, por aí vai… Fico um pouco mais tranquila porque sei de sua capacidade técnica e física. Dividir uma cordada é legal sim mas não tenho como evitar e pensar que é meu filho que lá está.
Tenho 2 netos (5 e 8 anos) que já começaram e ir para as trilhas e contato com pedra. A familia vai longe (risos).
O Mirante Simone, na Serra dos Órgãos é uma conquista em sua homenagem…Conta esta história?
Mirante Simone – bem, estava a caminho da Agulha do Diabo com Berardi e outros quando não nos foi possível ir adiante e descemos pela Passagem da Neblina debaixo de um ventania daquelas e ele disse que “me daria um mirante” – gente, fiquei super feliz e rezando para não morrer tão cedo já que só se deve homenagear os mortos. É legal que hoje muita gente conhece e faz de passagem para a Pedra da Cruz.
Há poucos anos o Pedrinho Bugim fez uma conquista no Campo Escola Joaquim Hilário no Corcovado e também fui homenageada – acho que é 7 qq coisa – devo admitir que é forte demais para uma avó como eu.
Ser mãe, avó, trabalhar, cuidar de casa e escalar…Tem que gostar muito, não é?
Gosto muito deste meio… Quando me separei fiquei meio perdida e a cada grupo que eu entrava, percebia que aquelas pessoas não me acrescentavam em nada. No montanhismo não sentia isto. Percebia que não era vista como a filha do fulano, mulher do beltrano e por aí vai; era sim, a Simone do CEB (olha a vaidade ai).
O que significa a palavra “parceiro” na escalada, para você?
Ah, parceiros tive alguns sim (todos homens- rsrs) – li outro dia que não devemos procurar nossa “alma gêmea” pois seria muito igual a nós – devemos sim procurar aquele que nos preenche; aquele que nos critica, que nos faz crescer, que de fato acrescente de todas as formas. Tive parceiro de escalada praticamente silenciosa, só se falando o essencial – sabe, como um balé com a música da natureza.
Logo que iniciei em caminhadas fiz uma subindo um pouco o rio Soberbo com o Groba e claro que inexperiente como era morria de medo de pular de pedra em pedra, mas lembro como se fosse hoje: ele parou com as pernas fazendo uma boa base esticou o braço; olhou para mim e disse: VEM . Eu fui, não é? Bem, acho que na parceria você sabe que seu parceiro esta na boa base e que pode confiar no que der e vier.
Gostaria de deixar uma mensagem para a mulherada?
Mulheres da montanha – não parem suas atividades porque alguém quer – vai se arrepender. Temos um “arsenal” de excelentes escaladoras, representantes competentes e muitíssimo mais cuidadosas que os homens, e não deixem de ser assim.
Entrevista concedida ao Site Mulheres na Montanha
Feita por Rosane Camargo
Dia Internacional da Mulher 97 / Cavalinho da Agulha do Diabo