Cume do Kala Pattar com o monte Everest ao fundo sob a nuvem lenticular)
Parque Nacional Sagarmatha / Nepal – Foto: Paul Dante
Esta grande escaladora paulistana é realmente uma mulher admirável!
Atual Diretora Técnica da FEMESP (Federação de Montanhismo e Escalada do Estado de São Paulo); e confesso que não consigo imaginar alguém melhor para este cargo…
Conheçam mais uma mulher incrível!
Tá com quantos anos?
32
Nasceu em São Paulo?
Sim
Está morando aonde atualmente?
Em SP mesmo
Profissão?
Bom… Sou designer de produto por formação mas trabalhei como designer gráfico por diversos anos e mais recentemente guia profissional formada por uma faculdade no Canadá aonde trabalhei guiando 3 temporadas e agora tentando exercer aqui no Brasil.
Conte sua história com as montanhas…Como, quando e o que te levou a elas?
Ah… Desde pequena eu tinha vontade de ir acampar, viajar… Mas isso nunca fez parte da história da minha família, meus pais acamparam uma vez na vida, acho. Então eu fiquei admirando, colecionando artigos de revistas e sonhando por muitos anos até que no meu último ano da faculdade de desenho industrial eu tinha que criar um produto como trabalho de graduação (o equivalente à tese) e decidi criar um equipamento para alpinistas; esse foi o meu pretexto pra ir atrás de informação, entender os esportes, conhecer o meio. Naquele ano fiz meu primeiro curso de escalada em rocha e depois disso não teve volta, hehe.
Você morou um tempo no Canadá; quanto tempo ficou?
Quase 4 anos.
E o que escalou por lá?
Putz, sabe que eu achava que ia pro Canadá estudar e escalar muito?? Grande engano…Escalei muito pouco – mas por outro lado pratiquei uma série de outros esportes e acabei adquirindo outras paixões, rs. Escalei em Skaha, um paraíso da escalada esportiva, e Squamish, um lugar com estilo de Yosemite, mas em menor escala, com setores de escalada em móvel e diversas vias longas. Também escalei em alguns lugares pequenos, estilo campo-escola, perto da cidade onde morei. Mas as possibilidades são muitas, ainda quero voltar para escalar por lá!!
Escalou em mais algum local fora do Brasil?
Escaladinhas em diversos lugares nos EUA (incluindo Red Rocks, Acadia, Bishop) além de temporadas em Yosemite e Indian Creek; na Argentina (Frey, Arenales e uma tentativa em Chaltén). Alta Montanha na Bolívia e Argentina.
Indian Creek / EUA – foto: Geoff Somerville e Slack Line em Squamish / Canadá – foto: Warren Sharpe
Morando na cidade de São Paulo dá para escalar todo final de semana na rocha?
hahaha!!!
Tem algum estilo que te atraia mais?
Sem dúvida, com o passar dos anos eu me atraio cada vez mais por escalada em móvel e vias longas. Acho que a maior integração com o ambiente, o envolvimento, o comprometimento e o isolamento – estar lá naquele momento – são o meu barato.
Como diretora técnica da FEMESP, gostaria de lhe fazer uma pergunta…Algumas pessoas começam a escalar com amigos, namorados (as), em ginásios…Muitas vezes sem receber algum tipo de informação básica de segurança e de uso dos equipamentos. Como isso funciona FEMESP x clubes de montanhismo x ginásios x APEE?
A FEMESP tem como um dos principais objetivos incentivar a prática segura das atividades de montanhismo e queremos incentivar que novas pessoas comecem a praticar as atividades. Não somos contra qualquer iniciativa de levar amigos para escalar, mesmo porque é assim que grande parte (senão a maior parte) das pessoas começa. CONTUDO é importante que a pessoa que esteja levando um amigo tenha alguns conceitos importantes em mente:
– Tenha conhecimentos e o domínio de técnicas suficientes para garantir a própria segurança e a de seus amigos;
– Além de apenas levar o amigo para curtir a escalada, o ensine alguns conceitos básicos: a fazer um nó oito adequadamente, a fazer segurança, comentar sobre mínimo impacto, etiqueta, etc;
– Inicie com vias fáceis e curtas, já conhecidas pelo escalador;
– O faça em um ambiente ‘controlado’ (por ex campo-escola) ao invés de levar um iniciante para escalar uma via no Baú ou Pão de Açúcar, o que acontece frequentemente e infelizmente é o que leva a muitos acidentes, quase-acidentes e traumas. Eu já precisei ajudar algumas pessoas nesta situação, fora os diversos casos de ‘resgates’ que ouvimos falar.
Além de tudo é sempre recomendável incentivar o iniciante a fazer um curso; pois a escalada em rocha envolve muito mais questões do que apenas “subir”. Mesmo como acompanhante é preciso saber checar o equipamento do amigo, saber fazer segurança, costurar, montar uma parada equalizada e a progressão natural seria aprender a guiar. Ou seja, não basta ser capaz se chegar ao fim da via para poder se dizer escalador, muitos aspectos da escalada e da segurança dos escaladores devem ser passados adequamente, e um curso ainda é a melhor alternativa para isso.
E mesmo para quem já escala há algum tempo é sempre importante continuar se aprimorando, buscando informação, fazer um curso avançado ou de auto-resgate e etc. Justamente é este o nosso objetivo com as oficinas de técnicas gratuitas que temos promovido desde o ano passado.
A FEMESP apenas recomenda os cursos ministrados pelos clubes de montanhismo por não possuírem fins lucrativos e por serem homologados pela Federação através de normas técnicas que definem um currículo mínimo e do nosso ‘selo de qualificação de montanhista’ que os alunos aprovados nos cursos recebem.
A APEE cuida da escalada esportiva, estabelecendo o ranking paulista e organizando campeonatos, etc.
Porque em São Paulo ainda não fundaram uma associação de guias profissionais, como a AGUIPERJ?
Creio que isso ainda não ocorreu em função de alguns fatores, sendo o difícil (ou demorado) acesso às áreas de escalada o principal deles. Em função disso há menos escaladores, menos escaladores ativos e guias ativos na nossa região e a maior parte dos guias acaba se dedicando mais ao turismo e a outras atividades. Além disso, como não há muitos lugares para se escalar em rocha em SP, a demanda por guias é bem menor do que no Rio e os guias acabam se concentrando nas regiões aonde trabalham e frequentemente moram.
Diedro de Jim – Agulha Frey / Argentina foto: Andreas G. Martin
E planos, projetos para este ano? Vai ficar por aqui no Brasil?
Planos alguns, desejos muitos e projetos… Por enquanto nenhum concreto. No momento estou tentando me re-estabelecer (voltei pro Brasil no ano passado) e a falta de recursos (= grana!) por enquanto é um limitador para a execução de qualquer projeto… 🙂
Gostaria de deixar uma mensagem para a mulherada?
Que se animem e saiam mais!! O número de mulheres fazendo atividades outdoor tem aumentado, mas ainda há muitas mulheres tímidas, com receio sair e praticar as atividades e participar de eventos em função de um número incrível de fatores incluindo medo de passar vergonha por não conseguir mandar um lance, por ter dificuldade ou mesmo por não possuir tanta desenvoltura quanto os homens para certas atividades. Acho que falta coragem a muitas mulheres para mostrar a cara, mas o que importa é se divertir independentemente das habilidades pessoais, basta encontrar a companhia certa!!
Entrevista concedida ao Site Mulheres na Montanha
Feita por Rosane Camargo