Learning to fly (Baú)

 

Apesar de toda a sua modéstia, gostaria de enfatizar que devemos grandes e importantes passos e conquistas em prol do montanhismo,a essa linda mineira , pessoa que faz a diferença, é tudo o que tenho a dizer sobre Mônica.

 

Idade?
33 anos

 

Profissão?
Bióloga

 

Nasceu aonde?
Itajubá, Minas Gerais

 

Tempo de escalada?
12 anos

 

E como foi que a escalada surgiu na sua vida?
Eu nunca fui do tipo esportista. Quando era adolescente gostava de cultura e artesanato. Morei em uma comunidade na Bahia durante um tempo, até engravidar… Então tive que voltar para casa, pois a barra pesou. Minha filha tinha uns dois anos mais ou menos e eu estava muito deprimida. Tinha que me reajustar com a vida na cidade e longe das coisas que eu gostava. Foi quando um grande amigo me chamou para conhecer a Pedra do Baú em São Bento do Sapucaí. Subimos várias vezes esta montanha em situações diferentes, em uma delas eu vi uns escaladores nas falésias do Baú, antes do último lance de escada na face norte. Amor a primeira vista !!!! Parei para conversar… Na terça feira da mesma semana já estava começando o curso básico. Nunca mais a escalada saiu da minha história ;o)
CMSM (Clube de Montanhismo da Serra da Mantiqueira), FEMESP (Federação de Montanhismo do Estado de São Paulo), Programa Adote Uma Montanha e a fundação da CBME (Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada). Tudo isso é cria sua…conta para nós como tudo isso surgiu…o processo…

 

Nossa, muita coisa para contar. As entidades são crias de muita gente boa, dedicada, muitas delas ainda hoje dão tudo para manter nosso esporte representativo. Foi uma época atípica no montanhismo, houve uma mobilização nacional. O Rio já estava mais organizado que a gente, e foi de ajuda fundamental, o Paraná, Rio Grande do Sul, Minas, enfim, como disse foi uma fase de mobilização no Brasil. Poderia ficar muito tempo contando as histórias dos que se dedicaram a este feito, mas isso fica para outra oportunidade…

Em São Paulo aconteceu um fato que desencadeou o processo todo. Houve uma necessidade de representação dos montanhistas, como grupo organizado, perante órgãos governamentais e sociedade. Assim surgiu o CMSM, que juntamente ao CAP e CEU que eram os clubes mais antigos do estado, fundaram a FEMESP. Logo na seqüência surgiu também a APEE, que agregava os escaladores esportivos e competições, pronto, estávamos completos… Será? Ainda não, faltava uma ação mais efetiva em relação às montanhas que freqüentávamos. Neste ponto já éramos organizados o suficiente para mobilizar uma quantidade boa de pessoas para esta causa, ajudar a cuidar das montanhas que tanto nos fazem bem… Assim surgiu o Adote uma Montanha, onde os clubes adotavam, com calendário anual de ações, as montanhas com que mais se identificavam. O passo seguinte era óbvio e foi a criação da CBME. Faz muitos anos que não participo de nada mais, voltei a estudar e me dedicar mais tempo à escalada. Mas os amigos e as histórias são para sempre. Foi uma fase muito especial na minha vida.

 

De lá pra cá, o montanhismo mudou alguma coisa? cita alguns exemplos…Mudou sim, cresceu, tornou-se mais democrático e acessível. Muita gente nova chegando, isso tem prós e contras, mas acredito na evolução constante. Novas conquistas, a elevação do nível em todas as modalidades e também a representatividade das entidades. Ainda não é o mundo ideal, mas é o caminho.

Comecei a escalar com vinte e poucos anos, hoje tenho trinta e poucos, vi meus amigos crescerem como pessoas e como escaladores, vi a geração dos trinta, quarenta e cinqüenta e poucos tornarem-se referências para outras gerações, me sinto feliz com isso. Vejo também a nova geração comendo pedra, disposta, escalando cada vez melhor. Impossível dizer que não mudou. A cada conquista nova, seja na escalada, ou com um livro novo publicado, uma parceria com parques, enfim, quando feita com humildade é como se todos nós escaladores e montanhistas conquistássemos algo novo também e nosso caminho se torna mais sólido.


V de Vingança, São Bento do Sapucaí / Mirante da Cruz em São Tomé das Letras

 

Sei que é uma pergunta difícil de responder, mas o que a escalada significa pra você?
Qualquer coisa que eu escreva não vai representar o que a escalada significa para mim, seria insuficiente ou inadequado. Acho que todo escalador sabe, mas expressar…

 

Alguém te inspira?
Caramba, muitos!!!! Mas além das referências de todos nós eu me sinto muito inspirada pelos meus parceiros de corda. Na hora que você está no veneno, com a chapeleta longe à beça, numa aderência lazarenta ai ai ai, nada mais inspirador que ouvir “Vai na fé que to contigo!”… Agradeço ao Universo pelos meus amigos, amigas e parceiros de escalada!

 

E perrengues e roubadas…tem algum para nos contar? 🙂
Poxa, o disque roubada sempre me pega!!!!!

Passei uma boa com minha amigona e parceira Lu Maes… Salinas. Pico maior. Comprometidas. Errei a linha da via, ficou tudo craquelento e estranho.. “Lu!!! To na merda! Acho que entrei no lance errado…” “Calma garota, respira e volta… To com vc!!!”… Volta tudo, dá um pulinho e acha a chapeleta… ufa… foi quase ;o)

Tenho um hábito de me meter a seguir o Diogo em umas roubadas… “Vamos lá! Tá tranqüilo, você guia as enfiadas mais tranqüilas e eu guio o resto” Tudo mentira!!! As enfiadas difíceis são umas diagonais filhas da mãe onde o segundo se ferra mais que o primeiro ou as passagens obrigatórias são aéreas enfim… Sempre boas histórias para contar. Tive apenas uma queda grave escalando no Baú, machuquei meu joelho que nunca mais ficou 100%, mas passou, aliás to procurando parceria pra voltar lá… tem que tirar a uruca, né !?!?!?!?!

 

E planos para este ano?
Sim. To escalando pouco, voltei a treinar tem um mês mais ou menos, tenho alguns planos, mas prefiro contar depois e não antes, minha vida tá meio congestionada e sei lá, me sinto melhor assim.

 

Quer deixar um recado para mulherada?
Uma grande figura da escalada me disse uma vez para SEMPRE procurar uma mulher para escalar… É difícil. Admiro a união e força das cariocas e as meninas do sul, mas não é fácil encontrar mulheres afim de escalar, ter projeto junto e tudo mais. Digo escalar em paredes pois é o estilo que mais gosto. Na esportiva as meninas arrasam! São em maior número e são maravilhosas! Então meu recado é esse, vamos escalar mulherada!!! Acreditar no que podemos fazer e fazer! Procurem sempre uma mulher para dividir uma cordada com você!

 

Entrevista concedida ao Site Mulheres na Montanha

Feita por  Rosane Camargo
Fotos: Arquivo pessoal

 


Setor AKIRA de boulders em São Bento, de frente para a Serra da Pedra da Divisa