Foto: Roberto Sponchiado
Conheci Luciana numa ida na Sudoeste do Alto Mourão, aonde ela dividia cordada com Ana Alvarenga. E adorei ter mais uma amiga amante das montanhas…
Conheçam esta linda catarinense de 24 anos, técnica em Meio Ambiente, estudante de História, campeã catarinense de escalada de 2007 e vice em 2008.
1- Oi Lu, qual a sua idade e há quanto tempo está escalando?
Bom estou escalando há 4 anos e pouquinho.
2- Como foi este começo e o que te levou a escalar?
Fiz um curso de meio ambiente; o que me ajudou na interação com o meio e a escalada veio junto com alguém especial que infelizmente veio a falecer… mas acabou me conduzindo mesmo assim…
Trabalhei numa loja de escalada durante dois anos e depois disso vi o quanto a vida é curta e que devemos fazer o que gostamos, e assim me atirei de cabeça nesse mundo de conhecer montanhas, viajar, fazer amigos… E desde então tenho viajado bastante, geralmente em busca de paredes… Marumbi, Pedralva, Andradas,Aiuruoca,Marins… Morei um ano em São Bento do Sapucaí. Vivia com pouca grana, mas com muita qualidade de vida e aonde aprimorei muito minha escalada. Depois disso fui pro Rio, aonde também fui recebida de braços abertos. Escalei em Salinas, Petropolis, Taquaril, Serra dos Órgãos, Pão de Açúcar… e fiz amizades incríveis, dessas pra vida inteira!
3- E o que tem feito? você esteve na Argentina…foi a 1a vez? como foi a experiência?
Com o fim do trabalho no Rio, pretendia viajar para a Patagonia e retornar depois pra São Bento. A viagem foi um incrível aprendizado, aonde rompi muitas barreiras. Meu psicológico ficou feio no Frey. Escalei muitas vias, mas também chorei muito; em rapéis, cordadas… não entendia direito por que aquilo estava acontecendo comigo. O que eu era diante de toda aquela grandeza?! Meu ego foi estraçalhado e o que veio depois foi só contemplação.
Depois partimos a Arenales, aonde ocorreu o contrário; me senti completamente íntima com a montanha. Nos isolamos no fim do vale e
guiei muitas cordadas. A harmonia foi completa e até conquistamos uma via, que se chama Lauthia Danada. Passamos também por vários tremores (terremoto no Chile), o que nos deixou a prova de continuarmos na montanha, mas no fim tudo deu certo. Retornei ao Brasil com planos mudados; e fiquei pelo sul, especificamente em Quatro Barras (PR) na base do Anhangava, aonde trabalho atualmente no Refugio 5.13 e vivo em conexão com a montanha.
Na Decadence – Foto: Roberto Spochiado
4- Além de escalar, faz alguma outra atividade física, algo que complemente a escalada?
Estou tentando correr pelas manhãs, mas sou preguiçosa; e fazendo também práticas de yoga com amigos aqui no Morro duas vezes por semana. Mas treinamento especifico, não. Nesta semana mesmo estávamos rindo com uma frase que eu disse rss (treinar dá tendinite)… o negócio é escalar; estar na montanha e se divertir.
5- O que acha desta invasão de mulheres nas montanhas?
Nossa, as mulheres na montanha está lindo! Cada dia tem mais, e não é só escalando; é praticando montanhismo, alta montanha, contemplando a natureza…as mulheres não estão mais fazendo a diferença, e sim vistas como iguais!
6- Já sentiu algum preconceito no esporte pelo fato de ser mulher?
Já senti preconceito sim. Já vi homens que não conseguiram mandar a cordada e depois de eu ter mandado negar ir de segundo. Já ouvi “que se ela fez eu também faço!”. Parece coisa de despeitado rss. Nãoacreditam na capacidade das mulheres ou tem que ser sempre os melhores…
7- Você se inspira em algum escalador ou escaladora em especial?
Nossa, me inspiro em vários… Gaston Rebufatt por fazer coisas incríveis na época em que não existia nem o nylon, ao Jim Bridwell pela sua loucura e acreditar em si mesmo como rip doido que era, na Lynn Hill por acreditar em sua capacidade a ponto de mandar uma via de parede inteira em livre. Me inspiro nos dinossauros, dos que vivem uma vida simples na montanha, como o Sérgio Tartari, Chicão da 5.13, o Ralf Cortês, Chiquinho… pessoas que sentam com você em frente ao fogão à lenha e que sabem contar histórias! E inspiração maior no que foi a escaladora mais completa do Brasil, e que nunca vai deixar de ser, a Robertinha. Livre, especial, que buscou dentro de sí mesma suas respostas e soube levar sua vida até onde seu coração chegava, fazendo coisas
incríveis que marcarão a história da escalada brasileira para sempre.
8- Algum perrengue no currículo?
Acho que o maior perrengue foi em Aiuruoca, Pico do Papagaio. Via pouco repetida e difícil de ser achada… guiei uma cordada de 6o grau 60 m com 6 chapas e agarras podres. Sentia o coração do meu parceiro palpitar pela corda…mas no fim foi tudo bem.
9- Já se machucou feio a ponto de ficar parada? como lidou com isso?
Nunca me machuquei, graças à Deus. Nem tendinite, nem nada. Sempre tive muita consciência dos meus limites.
10- Quais são seus projetos pra este ano?
Para esse ano, pretendo terminar a via Todas as Mulheres do Mundo com minhas parceiras, conquistar uma via em Petrópolis em um pico chamado Cabeça de Negro e que me marcou muito, ajudar na conquista de uma via aqui no Anhangava (ainda é surpresa), tentar a via Los Encardidos, no Marumbi, em cordada feminina e no fim do ano uma expedição a Arenales para uma grande conquista também em cordadas femininas. Acho que será o ano de grandes conquistas!
11- Quer deixar algum recado pra mulherada?
Nunca se anulem, nem em opiniões, por mais absurdas que pareçam, nem na sua maneira de ser. Busquem sempre estar em sintonia com a montanha e absorver toda a energia que ela nos oferece. Acreditem em sí mesmas, em seus sonhos e os torne realidade. É isso aee!
Entrevista concedida ao Site Mulheres na Montanha
Feita por Rosane Camargo