Quaresma, Itaqueri da Serra/SP – Foto: Guilherme Oliveira
Ana Lígia começou a escalar com amigos no interior de São Paulo, venceu o medo da altura, e conheceu seu grande amor e parceiro de escaladas. Hoje ela vive e respira escalada. Dona do site EscaladaINT {+} e idealizadora do projeto Elas na Pedra {+}. Conheça um pouco mais dessa grande mulher!
Nome: Ana Lígia Loureiro Fujiwara
Idade: 32
Cidade: Piracicaba (SP)
Profissão: Formada em engenharia agronômica, mas atualmente trabalha como social media.
Quando e como foi o seu primeiro contato com a escalada?
Foi com alguns amigos da faculdade. Morria de medo de altura e achava que não tinha força nos braços pra escalar. Comecei a conhecer a escalada tradicional e cada vez que entrava numa via, só conseguia prestar atenção na rocha, nunca olhava o visual de tanto medo.
Fui me apaixonando pela escalada. Conheci o Rafa e a escalada esportiva. É muito bom poder ter ele como marido, amigo e parceiro de escalada! Fui percebendo que eu “respirava” escalada e por isso, ela passou a ser meu estilo de vida!
Meu medo de altura continua, mas hoje eu já consigo trabalhar/conviver com isso melhor.
Qual o estilo preferido de escalada pra você ?
Adoro a escalada esportiva! Mas não nego convite pra escalar outros estilos! Adoro boulder (apesar de me machucar… acho que meu corpo não é forte suficiente para movimentos repetitivos…). Gosto de parede, apesar de fazer muito de vez em quando. Na nossa região não temos vias tradicionais e o Rafa, meu marido, prefere escaladas mais próximas do chão (risos). O último estilo que conhecemos foi o Psicobloc!
Como são as vias e montanhas na sua região ?
Na minha região, no interior do Estado de São Paulo, existem picos de arenito (Cuscuzeiro e Itaqueri da Serra) e basalto (Campinas).
Adoro escalar no arenito! Apesar de ser um pouco quebradiço em alguns pontos, o arenito é uma rocha “macia”, não machuca as mãos. Permite uma certa aderência aos pés e o mais incrível de tudo, nos proporciona um constante aprendizado, porque as agarras nunca estão na posição convencional. Tem abaolado inclinado, reglete vertical, agarrão invertido, agarras escondidas… o que nunca facilita o à vista!
Eu e o Rafa escalamos somente 1 vez por semana na rocha, (se sábado é dia de escalada, domingo é dia de sermos pais), então, pela proximidade e pela quantidade de projetos, nós acabamos indo mais para Itaqueri.
Via Filé com certeza, Barrinha/RJ – Foto: Flavia Dos Anjos
Você costuma treinar durante a semana ?
Treino corrida 2 vezes por semana. A corrida me ajuda a gastar aquela energia contida e também me ajuda a manter uma consciência corporal.
Treino no murinho de boulder de casa, também 2 vezes por semana. Treino resistência, fazendo as chatas séries de movimentos. Já tentei treinar boulders marcados, campus e finger… mas só me machuquei… então faz anos que só treino resistência.
O incrível é que esse treino de resista, não me deixou só mais resistente, mas me deixou mais forte e com mais pressão nas mãos. Passei a conseguir descansar na via, sem ter que pesar na corda e também percebi que meu tempo de recuperação entre uma escalada e outra, diminuiu.
Sempre tento alongar, praticar um pouco de yoga e atualmente estou dedicando alguns minutinhos do meu dia pra meditar. Isso me ajuda a desfocar das coisas negativas e a focar no que realmente importa: pessoas e sentimentos bons!
Como você consegue conciliar a escalada com o trabalho, sua casa , ser mãe e ainda achar tempo pra tantos outros projetos como o Filme Elas na Pedra e o site EscaladaINT?
Minha mãe sempre me ensinou a fazer as coisas com carinho. Tento sempre pensar nisso!
Por exemplo, ao levar meu filho para o colégio… ao invés de reclamar que o trânsito tá chato, tento sair um pouco mais cedo e assim posso desfrutar desses minutinhos com ele. São nesses momentos que ele me conta da namorada (detalhe, ele só tem 8 anos!), pergunta coisas sobre o mundo, me conta o que ele quer ser quando crescer… é uma delícia. Imagina se eu tivesse focada no trânsito… iria perder tudo isso!
É assim que tento conciliar tudo! Confesso que tem dias que eu só quero fugir da dieta e comer um balde de pipoca com meu filho… (às vezes eu faço isso!) ou arranjar qualquer desculpa pra não treinar… mas aí penso, “poxa, se eu não fizer isso agora, vou fazer quando?”
A escalada é um estilo de vida pra nós lá em casa. Até o Juca, nosso cachorro sabe disso. Quando a gente treina no muro, ele sabe que não pode deitar no crash pad… (risos).
O nosso filho nasceu nesse ambiente. Ele praticamente aprendeu a andar e a se pendurar no muro ao mesmo tempo. A escalada é uma paixão para nós. Então, respirar escalada é muito normal lá em casa. E assim as coisas vão se ajeitando.
Tem dias que não tem jeito… quando a gente vê, estamos treinando às 10 da noite. Na época da edição do Elas, 1 hora da manhã era o horário normal de ir dormir… mas são fases. E no fundo a gente ADORA tudo isso!
E é aquela velha história, quanto menos tempo você tem, mais tempo você arranja!
Falando sobre o site como surgiu a idéia de fazer o site ?
O Rafa sempre teve um sonho de fazer um site pra divulgar a escalada na nossa região. Por isso o INT no nome, que fazia referência ao interior de São Paulo.
Ele não sabia nada. Teve que aprender TUDO nas horas livres. Criou um primeiro site e enquanto começamos a divulgar alguns videos e fotos, o Rafa foi aprendendo cada vez mais.
Só percebemos que o site tinha crescido, quando começamos a receber mensagens de escaladores de outros Estados do Brasil. A gente se perguntava “é isso mesmo? Esse cara na Bahia viu e gostou do nosso video?”
Foi uma alegria enorme, saber que a escalada não tinha fronteiras e que estávamos conseguindo divulgar pra todo o Brasil.
Depois de um tempo, o Rafa reformulou o EscaladaINT e chegamos nessa cara que ele tem hoje.
Hoje o site cresceu mais e após a parceria com a 5.10, alguns amigos brincam que o INT é de internacional (risos). Brincadeira gente!!! Somos realmente pessoas simples, nada de internacional. Como diz a Flavia dos Anjos, eu sou uma “italo-nipo-caipira”!
Mas é muito bom ter um espaço para divulgar a escalada e produzir material sobre esse assunto, como a Revista virtual, os videos, os posts, os álbuns de fotos e agora, um filme!
Boulder Dorotéia, Ubatuba/SP – Foto: Rafael Rodrigues
Gravidade Zero, Lapa do Seu Antão/MG – Foto: Rafael Rodrigues
E o Filme , como foi pra você ver aquele projeto que você já tinha há tempos guardado sair do papel e hoje estar pronto para que todos possam assistir ?
Eu sempre falo isso… às vezes não acredito que realmente aconteceu.
Outro dia o Gab, meu filho, me pegou assistindo o Elas na Pedra e disse “você não cansa, né?”
Não, não canso. Quando penso em tudo que esse projeto me proporcionou… a amizade das meninas, a cadena da Marcella num grau que ela tava buscando, as mensagens de meninas que se inspiram no filme, a viagem ao Rio de Janeiro, o aprendizado…
Quando eu olho pra trás, vejo as meninas dando o sangue nas filmagens, o Kalango e o Rafa querendo refilmar minha via, pra caprichar mais, eu (aqui no Brasil) e o Clark (lá nos EUA) revisando todas as legendas, o Rafa aprendendo sozinho a lidar com o After Effects… Juan refilmando a Dani pra melhorar algumas cenas, Diandra chegando a ficar com uma tatoo de tanto sol durante as filmagens do Naoki, Felipe Dallorto passando horas pendurado pra pegar os melhores ângulos da Flavia, Afeto ajudando nas filmagens e com as músicas, Felipe Belisário posicionando várias câmeras sozinho, pra gravar todos os ângulos da via da Marcella, o Gui na minha seg por horas… e depois de TUDO isso, foram horas e horas de edição… foi um mega trabalho de equipe.
Assistir o Elas no cinema foi exatamente o que a Adriana Mello tinha me adiantado: as mãos suando, a expectativa para ver se as pessoas iriam gostar, um friozinho na barrinha, meu olho enchendo de água… acho que foi a primeira vez que sentei e assisti o filme como expectadora… foi lindo.
E como foi participar pela primeira vez do Rio Mountain Festival ?
Foi incrível! Adorei ver o Elas na telona do cinema, ouvir as pessoas curtindo, se emocionando e alguns suspirando e torcendo durante o filme. Amei tantas pessoas vindo falar comigo na saída da sessão. O que foi aquilo gente? Pessoas bonitinhas demais!!! Obrigada!
Eu morro de vergonha, mas adorei cada comentário!
Eu fiquei surpresa com a repercussão da via que escolhi para o filme. Acho que a gente tá tão acostumado com ela, que às vezes esquece o quanto ela é linda. Fiquei feliz que as pessoas gostaram daquela parede vermelha do arenito, da movimentação, dos botes…
Adorei reencontrar amigos e conhecer pessoalmente pessoas tão queridas, como a Adriana Mello por exemplo!
Pra quem conhece eu e o Rafa sabe que nós estávamos torcendo para o Elas ser selecionado para o Rio Mountain Festival.
Nosso objetivo era ver nosso projeto na telona do cinema. E só!!!
Ganhar ou não ganhar um prêmio não muda nada para nós.
Nossa ideia é seguir nossos sonhos, sempre buscando o caminho da humildade.
“Elas na Pedra” – Palestra na Adventure Sports Fair, São Paulo/SP – Foto: Rafael Rodrigues
Vem aí o Elas na Pedra 2 ?
Pois é. Vem sim!
O filme Elas na Pedra deu origem ao Projeto Elas na Pedra!!!
Estamos pensando carinhosamente no Elas na Pedra 2. Todo mundo me pergunta se será com as mesmas meninas. E tem como não ser?
O Elas na Pedra nasceu de um sonho meu e do Rafa, mas cresceu e tomou forma com a ajuda da Marcella, Dani, Flavia e Diandra. Obrigada meninas!
Eu agradeço imensamente a todos que contribuiram de alguma forma.
Mas tenho que citar: Felipe Belisário, Naoki Arima, Caio Afeto, Felipe Dallorto, Juan Alves, Clark Eising e Julio Kalango.
Sim, o Elas na Pedra 2 será com as mesmas escaladoras!
Na sua vinda ao Rio de Janeiro, você conheceu lugares diferentes da escalada carioca, conte um pouco sobre como foram esses dias, suas impressões e o que achou.
Desde que eu e o Rafa começamos a namorar, isso faz uns 10 anos, nós temos o sonho de conhecer a escalada esportiva no Rio de Janeiro.
Já que o Elas na Pedra iria ser exibido no cinema, tava aí um bom motivo pra conhecer o Rio. Ainda mais, quando a Flavia Dos Anjos e o Felipe Dallorto disseram “venham, que a gente vai escalar com vocês!”. Foi demais!!! Obrigada Flavia e Felipe, vocês abriram sua casa e o coração para nos receber!
Tenho que agradecer também ao Clark, grande amigo que mudou todo seu cronograma para estar conosco nesses dias!
Valeu demais cada minuto dessa trip!
Adoramos conhecer a Barrinha, o CE 2000 e o Parque Estadual da Pedra Branca. São lugares lindos, com vias incríveis!
Adoramos experimentar o Psicobloc! Eu tenho que confessar que fiquei mais com o “Psico”, do que com o “bloc”. Mas valeu demais! As Ilhas Tijucas são demais! Lugar lindo, uma vista incrível do Rio de Janeiro, psicobloc, boulder… adoramos!
Também tivemos a oportunidade de escalar no Centro de Escalada JPA. Poxa… eu não gosto muito de resina… mas o que é esse lugar? INCRÍVEL!!! Os muros, as agarras a vibe… depois de um dia na Barrinha e eu e o Rafa não conseguíamos parar de escalar no JPA!!!
Sim… faltou o Pão de Açúcar… vou deixar pra próxima, assim tenho desculpa pra voltar!
Gostaria de deixar um recado para as meninas?
Obrigada pra você que me disse por mensagem ou pessoalmente, que o Elas na Pedra foi inspirador! Isso significa muito pra mim! Obrigada mesmo!
Eu levo comigo, uma coisa que aprendi com um escalador que eu admiro muito, que me ensinou muita coisa e que me ajudou a evoluir na escalada:
“Sempre leve o melhor do seu dia de escalada, nunca se prenda às pequenas derrotas”. (Frase de Rafael Rodrigues)
Entrevista concedida ao Site Mulheres na Montanha, em outubro de 2013.
Por: Adriana Mello