O mar e a montanha chegaram cedo ao mundo e fizeram um pacto. Ela se elevaria às nuvens mais raras e ele às profundezas escuras.

Enquanto ele a banhava com suas ondas empinadas, ela, passiva, se deixava molhar e inundar de espumas.
Musgos e limos cresciam nas rochas baixas, a mata se alinhava em platôs suspensos, florestas formavam crinas nas encostas brandas.

E, numa manhã de sol, quando a ventania soltava um suspiro de galhos,eu nasci. Aninhei-me à pedra quente e úmida e bebi da saliva pura do penhasco.

Minha mãe montanha ensinou-me a subir por seus paredões de fartos seios e a mover-me para cima e para baixo como os lagartos, meus irmãos brejeiros.  À noite, me guardava da brisa fria nos salões das chaminés.

Quando eu lhe perguntava sobre meu pai, ela me dizia com sua voz de flauta:
– É o mar, é o mar… Você é filha do potro salgado. Busque-o no horizonte!

Então escalei até o pico mais alto esgueirando-me pelas escarpas íngremes do corpo de minha mãe e atirei-me no abismo, em direção às ondas do azul profundo.

Nadei distâncias incontáveis de minha juventude. E quando pensava chegar, as ilhas se afastavam carregando o horizonte para mais e mais além.

A paisagem se modificara. Uma bizarra concretagem crescera  ao redor do maciço enquanto construções aéreas nasciam das gretas. Aves escuras, cumes sombrios. … A flora resumia-se a rastros esporádicos. O rio de minha pré-histórica infância corria esquálido num filete de chumbo.

M E U  N O M E  É  P L A N E T A!

Moro na rocha materna e me esquivo da chuva ácida e dos aviões sem rumo. Convivo com pássaros tísicos enquanto tento encontrar meu pai oceano através da névoa plúmbea radioativa – expiração nociva dos humanos.

 

Essa é uma crônica de Denise Emmer.
Algumas de suas conquistas:  Via Coringa (P.A.) Via Atlanta (P.A.) Via Antares (Cabritos) Via Estrela (Agulhas Negras) Via Aliança (Agulhas Negras) Via Sherpa (Agulhas Negras), entre outras…

Conheça o Blog {+}