Yosemite

Definitivamente o nome desta mulher é TRABALHO.
Competentíssima instrutora de escalada, carinhosa, inteligente, sempre antenada. Administra a escola  Companhia da Escalada e o site www.companhiadaescalada.com.br e ainda lê muitos livros!!! Tenho que confessar que Cíntia é uma das mulheres mais admiráveis deste esporte, e com certeza, deve ter muita gente por este Brasil escalando muito, depois de passar pelas mãos desta magnífica professora.

Qual a sua idade ?
36 anos

Aonde você nasceu ?  Está morando no Rio há quanto tempo ?
Nasci em Curitiba, no Paraná e moro no Rio há uns 12 anos.

Profissão ?
Instrutora de escalada

E quanto tempo você tem de Montanha ?
Uns 14 anos.

O que te motivou a escalar ?
Os amigos. Foi muito gradual. Eu já curtia muito a natureza, caminhadas e acabei fazendo amigos que escalavam e aprendi a subir pelas paredes (risos). Minha primeira parceira mesmo de escalada foi uma amiga, a Francine. Escalávamos juntas e aprendemos muito sozinhas, numa época em que os homens ainda dominavam a escalada.

Como conheceu o Flávio Daflon ?
Conheci o Flávio numa escalada através de um amigo suíço em comum, que acabou sendo involuntariamente nosso cupido durante umas férias que viemos ao Rio para escalar. Inclusive comecei a namorar o Flávio no meio de uma escalada, a Magia Vertical.


Agulhinha da Gávea / Patagônia

 

Me diga, como é viver de escalada no Brasil ??
Pra mim é ótimo, mas acho que não é para qualquer pessoa. É preciso ser uma pessoa bem tranquila e sem fru-frus, pois não posso dizer que seja uma vida estável. Mas é muito bom fazer o que gosta, sem estar presa entre quatro paredes, com horário fixo e chefe… Como nós não somos muito de badalações, nem de luxos, dá pra viver bem e ainda sobra um dimdim pra viajar de vez em quando, mas precisa ser bem econômico, coisa que para mim é difícil do ponto de vista dos livros, pois sou viciada em livros e preciso sempre me controlar. Não posso ver uma promoção de livro ou uma nova série saindo que fico louca (risos). É gostoso ensinar pessoas, passar o conhecimento adiante, fazer novas amizades… Tem vezes que está bem tranqüilo, mas tem outras que é muito cansativo. Muitas vezes em 10 dias, 9 são de aulas e escaladas da escola, e mesmo em dias de chuva há sempre uma tonelada de trabalho. Esse é o ponto negativo de trabalhar em casa, pois você não tem horário e acaba trabalhando 20 horas por dia (sem falar das tarefas domésticas – risos), pois além da parte prática da escola, tem a parte burocrática (emails, atualização dos sites, facebook, cadastro de alunos, eventos, controle de aulas, etc) e ainda os três livros que temos publicados, que dão mais trabalho quando estamos para fazer uma nova edição. No resto do tempo é apenas atender aos pedidos. Tem também o site que toma bastante tempo. Até a revista Fator2 que editamos, tivemos que dar um tempo, pois não estávamos dando conta. Afinal é só eu e Flavio para tudo isso.

Aproveitando…Como surgiu a Fator 2 ?
Bom, antes de mudar para o Rio, já tinha participado de uma tentativa de editar uma revista específica de montanhismo em Curitiba, a Vertigem, mas é muito difícil conseguir patrocínio em outros estados. Aqui no Rio é um pouco mais fácil, mesmo assim… A idéia era ter um veículo de informação para divulgar os eventos, novas conquistas, croquis, dicas de segurança, técnicas, notícias, coisas que interessam e fazem a história do nosso esporte.

Qual a sua impressão do profissionalismo na escalada no Brasil ?
Há mais profissionalismo, pelo menos aqui no Rio, mas ainda estamos engatinhando. É difícil encontrar gente qualificada para trabalhar com escalada em rocha. Muitos preferem trabalhar com escalada industrial que dá mais dinheiro (risos). Trabalhar profissionalmente não é tão fácil, não basta saber escalar, mas é preciso saber passar isso para outras pessoas, ter didática é muito importante, descobrir maneiras para facilitar o aprendizado dos outros. E não dá só para ficar dando aula ou guiando um aqui outro ali, tem que se aprimorar, escalar em outros lugares, adquirir outras experiências… Tem que ter dedicação!


Cerro Solo

 

Na sua opinião o que está faltando no esporte para melhorar ?
Investimento. Indústrias de equipamentos nacionais, mais apoio para atletas e mais reconhecimento do público e das autoridades. Mas nesse caso, ganha-se e perde-se… Mais investimentos, mais gente escalando, equipamentos mais baratos, mas em compensação perde-se um pouco do sossego na montanha e aumenta-se as chances de acidentes sérios. Só espero que o montanhismo nunca perca a aura de ousadia que sempre teve.

Gostaria que nos contasse como surgiu a Companhia da Escalada e o que motivou a criação do site Guia da Urca e a publicação de livros como os guias de escalada da Urca , Floresta e o Escale Melhor e com Mais Segurança.
A Companhia da Escalada já existia quando vim para o Rio. O Flávio fundou a escola em 1995 e em 1996 ele o Delson imprimiram a primeira edição do Guia da Urca. Eu vim para o Rio em 1998. O site da escola já existia. Fizemos umas melhorias e então surgiu a idéia de fazer outro site para o livro Guia da Urca, não só para divulgá-lo, mas dar notícias e atualizações do mesmo. Porém manter dois sites dava muito trabalho, então escolhemos juntar tudo num só. Os livros migraram para a Companhia da Escalada, que é nosso carro-chefe e remodelamos o site para conter todas as nossas criações, inclusive o mais novo livro, o Escale Melhor e com mais Segurança. Esse surgiu de uma necessidade. Nós tínhamos sempre que fazer um apostila diferente para cada tipo de curso da escola, imprimir cada uma de acordo com o curso e encaderná-las para os alunos. Isso dava muito trabalho e sempre estávamos atualizando as mesmas. Então pensamos… porque não escrever um livro de técnicas que serviria como uma apostila para os cursos e ainda supriria uma lacuna na literatura técnica de montanha no Brasil? Afinal é difícil mesmo hoje encontrar livros específicos sobre técnicas de escalada. As obras mais ao alcance eram livros em espanhol. Ainda padecemos de uma grande falta em comparação com outros países, mas já estamos dando o primeiro passo. Quem sabe não seja um incentivo para mais publicações desse tipo, assim como foi com o Guia de Escaladas da Urca que trouxe na esteira muitos e ótimos guias de outras regiões. Que seja bem vinda a informação!!!! (risos)


Patagônia

Para quem você tira o chapéu no montanhismo ?
Ah, tiro o chapéu para muita gente, mas uma em especial era o Bernardo Collares, que foi um excelente presidente para a Federação como grande mediador e agente de ação para que as coisas acontecessem, além do ótimo escalador que era. E para as muitas meninas que desafiam o preconceito e mostram que escalada não é só pros guris, mostrando que são excelentes escaladoras e muito guerreiras. Tiro o chapéu também para nossos escaladores mais velhos, que apesar das limitações da idade continuam dando um show na montanha.

Recadinho para a mulherada…
Espero que as cordada femininas sejam cada vez mais freqüentes, sempre alegres, com muita faladeira, muito riso, muita cor e que nunca deixemos o montanhismo perder o ar de ousadia e solidariedade que sempre foi a sua aura. Simbora escalar e acabar com esmalte para poder mudar de cor! (risos).
Grande Abraço,

Cintia Daflon
www.companhiadaescalada.com.br

Entrevista concedida ao Site Mulheres na Montanha

Feita por  Rosane Camargo

 

Vejam abaixo mais algumas fotos (clique para ampliar):