Amar é como escalar. Senti isso esses dias. E foram dias turbulentos de confetes esvoaçantes, vindos como um furacão. Nesses dias nunca desejei tanto fugir para a montanha. Queria fugir e pensar sozinha, só isso. Quis mesmo escalar e repensar, na vida, no amor, nas coisas, na verdade das coisas, nos sentimentos, na verdade dos sentimentos… em tudo. Quis mesmo estar sozinha. Quis ao mesmo tempo escalar um paredão em busca de um amor que ainda não chegou. Não sei se é uma comparação incoerente, mas hoje, penso que amar é como escalar.
E o melhor modo de escalar é com calma. Ir, então, conquistando tua via com a cautela de que todos os grampos ficarão por ali, de que as costuras estarão seguras numa queda. A cada lance numa via desconhecida você pensa, avalia a condição da rocha e, só depois de ter segurança, você segue. Você costura uma via como cose um relacionamento, com tesão pelo ato, com tranqüilidade de seguir antes que a noite chegue para não se perder no caminho. A cada lance dado, uma vitória. A cada queda, um aprendizado. E é bom aprender a cair. Numa queda se aprendem teus limites, tuas prioridades e, então, tuas atitudes são amadurecidas. Aprendi que o amor se constrói quando há sinceridade e não há pressa. Pois, quando a agarra estiver solta, deve haver alguém em quem confiar para fazer tua segurança, uma confiança na parceria construída dia-a-dia, continuamente.
Não tenho medo de escalar. Mas, talvez, tenho medo de amar. Tenho receio da entrega cega, da incógnita, da incerteza. Tenho pavor da paixão desenfreada, da culpa, do erro e das atitudes impensadas. Aterrorizo-me com a impulsividade exacerbada e com o ódio que pode porvir ao amor… Confesso que já tive medo de escalar, afinal, quem nunca teve medo de altura? Perdi o medo rapidamente ao confiar nos equipamentos, nas técnicas e nas parcerias durante a segurança. Espero perder o medo de amar, porque sofrer é algo que não está mais nos meus planos. Posso me arranhar numa subida, ficar roxa, escalar até os músculos de todo corpo doerem por uma semana. Mas, com o prazer que uma boa escalada garante, vale sim cada investida num lance.
Não tenho medo de subir uma via desconhecida de 5º grau, mas uma de 7º já me deixa um pouco cautelosa. Um amor hoje me parece uma via de grau alto, a qual eu ainda não consigo encarar com a certeza de que não vou levar um tombo feio. Quando estou numa via penso racionalmente no que posso ou não fazer. Reflito a cada passada, porque a respiração começa a ficar mais forte e o cérebro necessita que você mantenha a calma para não cometer erros. É necessário manter a mente centrada, porque disso depende a tua vida e a vida de outra pessoa. Sim, escalar e amar se fazem em parceria. As melhores parcerias são aquelas onde o entrosamento, a confiança e o racional estão presentes. E claro que se pode amar com a razão. Porque, assim como numa escalada a emoção sem a razão pode ocasionar um grave acidente, num relacionamento o amor não se sustenta sem a razão. Não há garantia eterna de que você nunca irá se ferir… Afinal, no amor, qual é a garantia absoluta de que realmente tudo vai dar certo? Mas ao manter a mente calma e o coração tranqüilo, as chances aumentam abruptamente, de modo a ter certeza que no fim você chegará ao cume. Sim, porque mesmo com os desafios, alguém estará bem efetivamente para que vocês encontrem o topo.
Talvez eu esteja sendo dramática, ou provavelmente seja mesmo medrosa. Mas é que, mesmo pensando tanto, algumas vezes ajo por impulso, um pulo irracional onde não há agarras ou uma corda para segurar. Porque preciso mesmo de uma boa segurança para acreditar no amor. Necessito de uma boa corda e alguém lá comigo onde haja a segurança de que ninguém vai se machucar. E a cada dia que passa, mudo, amadureço e passo a ser mais cautelosa na subida… É, de fato, amar é como escalar.
Por: Rebeca Barreto
Petrolina, 14 de março de 2008